1- Unidade de Infecciologia Pediátrica da Área de Pediatria Medica - Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE, Lisboa
2º Congresso da Área de Pediatria Médica
Introdução: A paralisia aguda periférica do VII par craniano (nervo facial) ocorre habitualmente na criança com idade superior a 10 anos, sendo em rara em lactentes e na primeira infância. Na maioria dos casos, a etiologia não é identificada e as alterações podem resolver espontaneamente (Paralisia de Bell). Na criança pequena, as causas infecciosas e nomeadamente a otite média aguda deve ser sempre investigada.
Caso Clínico: Criança do sexo feminino, 3 anos, com antecedentes pessoais e familiares irrelevantes que recorre á urgência por assimetria da face com desvio da comissura labial para a direita, mímica da região frontal comprometida e diminuição no encerramento do olho esquerdo. Ao exame objectivo apresentava abaulamento da membrana timpânica do OE sem outras alterações no exame neurológico (alem da parésia facial) tendo sido admitida paralisia facial periférica por extensão do processo inflamatório de otite média aguda (OMA). Foi internada e medicada com prednisolona oral 1,5mg/Kg/dia que cumpriu 6 dias e ceftriaxone ev 6 mais 4 dias de cefuroxime oral em ambulatório. Foi também sujeita a miringotomia bilateral e colocação de TT. Simultaneamente na admissão referia tosse produtiva e febre não quantificada desde há três semanas. A PCR nas secreções respiratórias foi positiva para enterovirus (real time multiplex-PCR, FTD respiratory pathogens 21 and CLART Pneumovir, Genomica). A sequenciação do vírus identificou enterovirus 68 (isolamento em RD cell line e analise filogenética das regiões do genoma VP1/VP3 dos grupos genéticos em circulação). No momento da alta mantinha parésia facial periférica esquerda mas com melhoria, da parésia agora de grau II/VI com evolução para a cura passado uma semana.
Comentário: Este é o primeiro caso de infecção por enterovirus 68, descrito em Portugal. O vírus responsável por uma grande epidemia nos EUA, em 2015, cursa com doença respiratória e doença neurológica grave incluindo quadros de paralisia flácida aguda. Neste caso é difícil atribuir a causa à paralisia facial periférica já que embora a OMA possa classicamente causar este tipo de entidade, o enterovirus 68 como vírus neurotrópico que é pode também ser implicado embora os seus mecanismos patogénicos sejam ainda pouco conhecidos
Palavras Chave: (max. 5): paralisia facial; enterovirus 68