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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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OS FILHOS DA CRISE – Há Impacto da Crise Financeira na Psicopatologia da Infância?

Cláudia Gomes Cano1, Luísa Queiroga1, Sandra Leal1, Juan Sanchez2

1 - Interna de Formação Específica em Psiquiatria da Infância e Adolescência, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central EPE, Lisboa;
2 - Consultor de Psiquiatria da Infância e Adolescência, Área da Mulher, Criança e Adolescente, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central EPE, Lisboa

- XXVII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e da Adolescência – Histórias de Vida, Percursos de Sobrevivência: do(s) Risco(s) ao(s) Projecto(s), 18-21/05/2016, Évora, Poster

Introdução: A crise económica, financeira e social afeta, em primeiro lugar, as populações mais vulneráveis, em que se incluem as crianças. Tem havido uma crescente procura dos serviços de Psiquiatria da Infância e da Adolescência em idades cada vez mais precoces. A importância desta mudança influencia a prática em Saúde Mental.
Objetivos: Caracterizar os pedidos e os tipos de família das crianças que tiveram primeira consulta de Pedopsiquiatria durante o ano 2015, na Clínica da Encarnação – CHLC HDE, nascidas depois de 2009 (idades entre os 3 e 6 anos), altura em que os efeitos da crise económica e financeira europeia se começaram a fazer sentir em Portugal.
Métodos: Estudo retrospetivo, transversal. Foram consultados 101 processos clínicos de primeiras consultas realizadas no ano de 2015 na Clínica da Encarnação de crianças nascidas depois de 2009 (idades compreendidas entre os 3 e os 6 anos). Critérios de exclusão: inexistência de informação no processo clínico
Resultados: Em 2015, foram atendidas em primeira consulta de pedopsiquiatria, na Clínica da Encarnação, 100 crianças, com idades entre os 3 e os 6 anos, o que corresponde a 21, 83% das primeiras consultas. Em 2010, o número de crianças com esta idade foi de 57, correspondendo a 12,25% do total de primeiras consultas. Foram incluídas no estudo 87 crianças; 58 do sexo masculino (67%) e 29 do sexo feminino (33%). Destas crianças 49,4% pertencem a famílias nucleares, 18,4% a famílias monoparentais e 13,8% a famílias reconstruídas, 33,3% não têm irmãos e 42,5% têm um irmão. Verificou-se que 2,3% dos pais e 18,4 % das mães estão desempregados e 8% dos pais e 31% das mães têm psicopatologia. Os principais motivos de consulta foram Problemas de Comportamento em 50,6% das crianças e os diagnósticos mais prevalentes foram Perturbação de Ansiedade em 21,8% dos casos e PHDA em 16,1%. Na intervenção realizada, 34,5% das crianças foram medicadas e 19,5% iniciaram acompanhamento psicológico.
Conclusão: Verifica-se um aumento do número de pedidos de consulta em crianças com idades entre os 3 e os 6 anos, em 2015, comparativamente a 2010. Na amostra analisada, mais de metade das crianças estão inseridas em famílias não nucleares, com dificuldades acrescidas comparativamente às nucleares, sendo mais vulneráveis ao impacto da crise económica. Uma grande percentagem das mães apresenta psicopatologia, a maioria com Perturbações Depressivas, que se poderá traduzir numa menor disponibilidade para as crianças. Mais de um terço das crianças está medicada com psicofármacos, a maioria em idades pré-escolares, o que levanta questões sobre a necessidade de repensar o tipo de intervenção feito com as crianças, bem como com as famílias.

Palavras-chave: idade pré-escolar, psicopatologia, crise financeira, crise socioeconómica.