1 - Unidade Cuidados Intensivos Neonatais, Hospital de Dona Estefânia. Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E.;
2 - Serviço de Cirurgia Pediátrica, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E.
- Sala de Conferências do HDE, 2 de Outubro de 2012 (Apresentação).
Introdução: A sobrevivência de doentes com gastrosquisis tem melhorado significativamente nas últimas décadas. No entanto, a dismotilidade e a disfunção intestinais, condicionam internamentos prolongados, com custos elevados, apesar de terem sido usadas variadas estratégias para tentar melhorar a evolução. Desde 2003, foi instituído no HDE o protocolo de cesariana electiva, entre as 34 e 36 semanas de gestação (SG).
Objectivos: Identificar factores associados à evolução hospitalar de doentes com gastrosquisis, avaliando particularmente o efeito da cesariana electiva, conforme o protocolo.
Métodos. Estudo de coorte histórica de recém-nascidos com gastrosquisis admitidos na UCIN-HDE, entre 1988 e 2011. Foram considerados como principais medidas de efeito, a taxa de letalidade, a duração da nutrição parentérica (NP) e do internamento; o início da alimentação entérica (AE) foi considerado medida de efeito intercalar. Os principais factores estudados foram a idade gestacional (IG), a cesariana de acordo com o protocolo, e gastrosquisis simples ou complexa (GCx). GCx define-se como a associação de gastrosquisis com outra anomalia congénita do aparelho digestivo (Molik 2001). Foi efectuada análise por regressão logística multivariada e linear.
Resultados: Dos 79 casos identificados, 15 eram GCx (19%). A taxa de letalidade foi de 7,6% (6 casos); a possibilidade de morrer diminuiu com a IG (OR 0,548; IC95% 0,341-0,878 para cada SG a mais). A possibilidade de duração do internamento superior à mediana de 61 dias foi 7,8 vezes maior nas GCx (OR 7,795; IC95% 1,27-47,94). A possibilidade de duração da NP superior à mediana de 44 dias foi 23,7 vezes maior nas GCx (OR 23,67; IC95% 1,96-285,94) e com o início mais tardio da AE (OR 1,2 para cada dia de atraso no início da AE; IC95% 1,02-1,41). A possibilidade de início mais tardio da AE diminui 36% com cada semana a mais de IG (OR 0,362; para cada SG a mais; p=0,045). Não se demonstrou associação entre a realização de cesariana electiva conforme o protocolo e qualquer das principais medidas de efeito.
Conclusões: A presença de anomalias gastro-intestinais associadas à gastrosquisis, a prematuridade e introdução mais tardia da alimentação entérica, parecem contribuir para uma pior evolução no internamento. Não se verificou que a evolução fosse melhor com a realização de cesariana electiva entre as 34 e 36 SG.
Palavras-chave: gastrosquisis, estratificação de risco, prognóstico.