Unidade de Infecciologia, Hospital de Dona Estefânia, CHLC-EPE
Introdução: A febre de origem desconhecida deve-se na maioria dos casos a manifestações raras de doenças comuns mas pode também ter na sua origem uma doença rara. É mais frequentemente causada por doença infecciosa mas pode ocorrer em outras etiologias, incluindo na doença autoimune.
Descrição de Caso: Criança de 12 anos, sexo masculino, com febre com três semanas de evolução e posteriormente exantema maculopapular na região malar e tronco. Sem edema ou dor articular. A avaliação analítica revelava anemia (8,6g/dL) sem leucocitose, PCR 10mg/dl, VS elevada (77mm/h), hipoalbuminémia (27g/dl) e proteinúria (100mg/dl). Sem alteração das transaminases ou função renal. No decurso da investigação diagnosticou-se pansinusopatia grave, foi medicado com cefotaxime e clindamicina mas manteve febre. Posteriormente surge oliguria, edema, derrame pleural e proteinuria nefrótica (60mh/m2/h). Da avaliação imunológica constatou-se ANA positivo (1/640), Ac anti-dsDNA positivo (673UI/ml), C3, C4 e CH100 diminuídos e teste de Coombs positivo, cumprindo assim 6 critérios de diagnostico para lupus eritematoso sistémico (LES) juvenil – (1) proteinúria nefrótica, (2) derrame pleural, (3) rash malar, (4) teste de Coombs. (5) ANA positivos e (6) C3,C4 e CH100 diminuidos. A biópsia renal revelou nefrite lúpica grau IV e iniciou prednisolona (40mg/dia), hidroxicloroquina (400mg/dia) e micofenolato de mofetil (250mgx2) com resolução de proteinúria e febre.
Comentario: A febre de origem desconhecida pode ser um verdadeiro desafio para o clinico. Neste caso apesar da identificação de uma etiologia infecciosa, a manutenção da febre levou á investigação de outra causa. O diagnóstico de LES exige elevado um nível de suspeição. Na idade pediátrica, o envolvimento renal é um importante preditor de morbilidade e mortalidade sendo a biopsia renal essencial para o plano terapêutico.