1 - Unidade de Reumatologia, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E.;
2 - Unidade de Infecciologia, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E.
- Congresso Nacional de Pediatria – Outubro de 2012 (poster).
Introdução: A febre Q é uma doença provocada por Coxiella burnetti. É pouco frequente nas crianças e a sua apresentação é variável,desde assintomática até doença aguda ou crónica com várias manifestações possíveis. A presença de autoanticorpos na doença aguda é frequente.
Caso Clínico: Rapaz, 10 anos, saudável,internado por febre elevada, odinofagia ligeira, anorexia e dor abdominal inespecífica com 10 dias de evolução. A realçar da história epidemiológica, contato com gado, cães e ingestão de água de fonte rural. Não existiam antecedentes pessoais ou familiares relevantes. Exame objetivo sem alterações. Analiticamente, à entrada,apresentava monocitose,elevação das transaminases (AST 229U/L e ALT 128U/L), da PCR (144mg/L) e da VS (89mm/h). Efetuou ecocardiograma que revelou derrame pericárdico de pequenas dimensões e iniciou ácido acetilsalicílico (AAS) 100 mg/kg/dia. Da investigação etiológica, destaca-se: anticorpos anti-B2GP1 IgG e IgM, anti-cardiolipina (ACA) IgG e IgM e anticoagulante lúpico (LA) positivos título elevado; restante estudo auto-imunidade negativa; hemocultura, urocultura, serologias para EBV, CMV, Rickettsia conorii, reação rosa bengala negativas; ecografia abdominal e radiografia torácica normais. Em D4 de AAS encontrava-se assintomático e analiticamente com provas hepáticas e parâmetros inflamatórios a normalizar. Teve alta referenciado às Consultas de Cardiologia e Reumatologia Pediátricas. Posteriormente, obteve-se os resultados da serologia para Coxiella burneti que revelaram anticorpos de fase II positivos e fase I negativos, compatível com infeção aguda. No seguimento ambulatório, verificou-se remissão do derrame pericárdico e redução dos níveis de anticorpos anti-coxiella fase II. Os anticorpos anti-fosfolipídicos continuaram positivos decorridas 12 semanas da primeira avaliação, mas após um ano do episódio agudo já apresentam títulos não significativos; não existiram episódios trombóticos durante todo o seguimento.
Discussão: Deve suspeitar-se do diagnóstico de Febre Q na investigação de uma febre de origem indeterminada, quando existe história de contacto com animais. O diagnóstico serológico é tardio. A presença de auto-anticorpos é frequente e o seu significado clínico é desconhecido, porém, são transitórios e desaparecem na fase de convalescença. No nosso caso, estes anticorpos persistiram mais tempo do que é descrito na literatura, podendo assinalar uma maior suscetibilidade para doença auto-imune, pelo que é importante manter seguimento e vigilância adequados.
Palavras-chave: febre Q, auto-imunidade.