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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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DESNUTRIÇÃO NA PESSOA COM PARALISIA CEREBRAL. UMA INEVITABILIDADE?

Eulália Calado1

1- Serviço de Neurologia Pediátrica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Lisboa; Federação das Associações Portuguesas de Paralisia Cerebral

XXIII Jornadas de Pediatria de Leiria e Caldas da Rainha – Consensos sobre nutrição em idade pediátrica, 15-15/12/2016, Leiria (palestra)

A Paralisia Cerebral (PC) é a doença motora mais frequente na idade pediátrica e a sua prevalência nos países desenvolvidos pouco tem diminuído neste século, continuando a ser estimada, na maioria deles, em 2:1000 nado-vivos. Entre 70 a 90% destas crianças atingem atualmente a idade adulta, graças ao investimento das famílias e dos profissionais de saúde. Quase metade (30 a 40%) das crianças com PC têm problemas de deglutição, que interferem em maior ou menor grau com a sua alimentação. Refeições que duram sistematicamente mais de meia-hora, que são motivo de grande desconforto e ansiedade para a criança e cuidador e um n-ao aumento de peso em 2-3 meses, são fatores de alerta de muito provável subnutrição, que uma intervenção atempada poderá evitar/corrigir/minorar. A restrição da mobilidade e a subnutrição são os 2 fatores preditivos principais na sobrevivência duma pessoa com PC. Existe uma relação direta entre subnutrição e os tipos mais graves de PC. São as formas espásticas bilaterais, envolvendo os 4 membros (tetraparésias), e as PC disquinéticas, pertencentes aos grupos mais elevados da escala da motricidade global (GMFCS IV e V), as que se associam mais frequentemente a subnutrição (85%). Apesar da atenção crescente que esta população tem merecido por parte da Pediatria portuguesa neste século, com aumento do recurso à gastrostomia e de suplementos alimentares, ainda continuamos a ser, entre os 18 países participantes na Surveillance of Cerebral Palsy in Europe (SCPE), um dos que apresenta maior taxa de subnutrição e menos número de gastrostomias nos tipos mais graves de PC (PNVPC5A – Programa Nacional de Vigilância da Paralisia Cerebral aos 5 Anos de idade). A gastrostomia, com indicação correta e vigilância adequada em consulta de GE com nutricionista, é determinante na prevenção da subnutrição e consequentemente no aumento da esperança de vida (com qualidade!) da pessoa com PC. A crescente obesidade dos tipos menos graves de PC (GMFCS I-III) é um problema atual transversal a todos os países desenvolvidos; uma educação e responsabilização, o mais precoce possível, do cuidador e mais tarde da criança/jovem para uma alimentação equilibrada, são fundamentais para não vermos agravado, ao longo da vida, o grau de mobilidade/restrição motora e por conseguinte a qualidade de vida da pessoa com PC.

Palavras Chave: Paralisia cerebral, subnutrição, gastrostomia