imagem top

2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

CHULC LOGOlogo HDElogo anuario

CREPITAÇÕES PÓS-TRAUMÁTICAS DA PERNA – SERÁ SEMPRE SINTOMA DE GANGRENA GASOSA?

Catarina Ladeira1, Aline Vaz da Silva1, João Pascoal1.

1. Serviço de Cirurgia Pediátrica, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE, Lisboa;

- Congresso da Sociedade de Cirurgia Pediátrica 11 e 12/11/2017, Lisboa (Poster)

Introdução: A aparência extensa de gás nos tecidos moles após trauma é frequentemente interpretada como sinal de gangrena gasosa, no entanto o enfisema subcutâneo pode ter etiologia benigna, não estando associado a outros sintomas em doente sistemicamente bem.
Caso clínico: Criança do sexo feminino, 11 anos que sofreu traumatismo por vidro com ferida punctiforme ao nível do maléolo externo. A mãe terá notado crepitações ao nível da perna poucos minutos após o traumatismo e levou a criança ao serviço de urgência de hospital periférico. Observada nesse hospital observando-se crepitações da perna, sem outros sinais associados. Foi medicada com meropenem, vancomicina e clindamicina e transferida para o nosso hospital por suspeita de fasceíte necrotizante da perna. À entrada do nosso hospital observa-se criança com bom estado geral, sem febre, ferida punctiforme, não sangrante e discreto edema na área do maléolo externo, sem calor ou eritema, discreta dor à palpação, sentem-se crepitações na área do maléolo externo que se estendem pela face anterior da articulação tibio-társica e posteriormente até ao maléolo interno. Realizado rx da perna que mostrou ar no tecido celular subcutâneo, dissecando o plano muscular profundo, análises sem alterações, ecografia mostrou enfisema subcutâneo sem sinais de fasceíte necrotizante. Teve alta medicada com flucloxacilina. Reavaliada em consulta três dias depois sem complicações.
Conclusão: O enfisema subcutâneo pós-traumático não indica necessariamente gangrena gasosa. Pode também ocorrer como resultado de lesão de alta pressão de ferramentas eléctricas, pequenas feridas punctiformes criando mecanismo valvular, lesão por arma de pressão de ar e procedimentos cirúrgicos. Causas benignas de enfisema devem ser consideradas em doentes que se apresentam sem quaisquer sinais ou sintomas de processo infecioso ou doença sistémica. O diagnóstico correcto evita exploração cirúrgica e tratamentos agressivos de uma condição benigna.

Palavras-chave: enfisema subcutâneo pós-traumático, fasceíte necrotizante