Clínica da Juventude, Área de Pedopsiquiatria, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central, E.P.E. (Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.).
- Aulas do Internato Médico de Pedopsiquiatria, 04/12/12 (Apresentação oral).
Introdução: O sono desempenha funções muito importantes tais como a conservação da energia, a promoção de processos anabólicos, a termorregulação central, a "desintoxicação" cerebral, a produção hormonal (hormona do crescimento, leptina, grelina), a consolidação da memória e processos de aprendizagem, a autorregulação do comportamento e emoções e está envolvido nos fenómenos de plasticidade cerebral.
São bem conhecidas as consequências da privação de sono em crianças e adolescentes: labilidade emocional, humor deprimido, irritabilidade, agressividade, baixa tolerância à frustração, impulsividade, dificuldades na atenção e concentração, insucesso escolar, absentismo, aumento dos comportamentos de risco e dos acidentes rodoviários, aumento do risco cardiovascular, função imune deficitária e alterações metabólicas, como insulino-resistência.
Cerca de 40% das crianças tem problemas de sono nalgum período do seu desenvolvimento, sendo as de maior risco aquelas que apresentam doença mental (80%). A avaliação do sono deve fazer parte de qualquer avaliação psiquiátrica.
A intervenção terapêutica dos problemas de sono em idade pediátrica passa por medidas comportamentais, a que por vezes é necessário associar fármacos dirigidos às dificuldades de sono concretas.
No caso de insónia inicial pode ser utilizada a melatonina, que atua no núcleo supraquiasmático do hipotálamo para regular o ritmo circadiano e tem uma vida média de 1-4 horas. Os benzodiazepínicos (como o zolpidem ou o lorazepam) também podem ser utilizados, mas não por um período superior a um mês.
A trazodona, que é um antidepressivo muito sedativo, é muito útil para as queixas de sono pouco reparador. Com uma vida média de 6-8 horas responde às necessidades de sono de uma noite sem provocar excessiva sonolência diurna.
Os anti-histamínicos, como a difenidramina ou os anti-psicóticos, como a quetiapina, também podem ser utilizados para o mesmo fim, apesar de induzirem maior sonolência diurna.
Para os doentes com queixas somáticas, fadiga, dor crónica, ou ansiedade marcada, a pregabalina e a gabapentina são opções a considerar.
Conclusão: Existem várias armas terapêuticas na abordagem farmacológica dos problemas de sono em idade pediátrica, que não podem ser descurados sem prejuízo da saúde física e mental das crianças e dos adolescentes. Entre estas incluem-se a melatonina, o zolpidem e outros benzodiazepínicos, a trazodona, os anti-histamínicos, os anti-psicóticos e alguns anti-epiléticos.
Palavras-chave: sono, co-morbilidades pedopsiquiátricas, farmacoterapia.
Key words: sleep disorders, pharmacotherapy, psychiatric morbidities.