Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central, E.P.E.
- 14º Encontro Nacional de Atualização em Infeciologia (Comunicação oral)
Resumo:
Introdução: A terapêutica farmacológica da infecção pelo VIH veio alterar drasticamente a esperança média de vida destes doentes sendo, no entanto, necessárias taxas elevadas de adesão à terapêutica para manter cargas virais indetectáveis. Os adolescentes são um grupo com elevado risco de não cumprimento. Entre os variados factores contribuidores, os sintomas depressivos podem ser responsáveis por uma fraca adesão à terapêutica. A aplicação regular de escalas de depressão poderá permitir fazer o rastreio de situações de risco permitindo abordagens terapêuticas específicas.
Objectivos: estimar a importância da patologia depressiva na adesão à terapêutica anti retroviral em adolescentes infectados pelo VIH.
Métodos: Estudo observacional com inquérito, no qual foram recolhidos dados demográficos, sociais e clínicos de todos os adolescentes infectados pelo VIH (idades entre 12 e 18 anos) durante o período de um ano (2014) seguidos em consulta de um Hospital de Nível III. A adesão à terapêutica foi estimada através dos registos da farmácia (considerados cumpridores aqueles que teriam medicação disponível para mais de 90% do período em estudo) e de um questionário de auto-verificação (Questionário de Morisky). Foi aplicada uma escala de depressão validada para a população Portuguesa (Inventário de Depressão para Crianças) composta por 27 perguntas de escolha múltipla com um intervalo de cotação entre 0 a 81 pontos. Considerados com sintomas depressivos aqueles com cotações superiores a 1 desvio padrão (DP) da média.
Resultados: Identificados 61 adolescentes seguidos em consulta de Imunodeficiências. Foi aplicada a escala de depressão a 33 (54%) adolescentes, 17 (51,5%) do sexo masculino, mediana de idade de 15 anos (min 12; máx 18), 12 (36%) provenientes de PALOP’s. Em relação ao tipo de vírus verificou-se que em apenas um dos casos (3%) a infecção foi por VIH-2, e em relação ao modo de transmissão, 32 dos casos (97%) ocorreram por transmissão vertical. Apenas 3 adolescentes (9%) apresentavam seguimento prévio em consulta de Psicologia/Pedopsiquiatria. 15 (45,4%) foram classificados como tendo má adesão a terapêutica sendo que a cotação média na escala de depressão foi de 27,5 (mín 5; máx 58). Deste 15 doente, 5 (33,3%) apresentavam cotações superiores a 1DP da média. Em termos de classificação imunológica, 4 (26,5%) pertencem ao grupo 1, 4 (26,5%) ao grupo 2 e 7 (47%) ao grupo 3. Em termos de classificação clínica, 2 (13%) pertencem ao grupo N, 8 (54%) ao grupo A e 5 (33%) ao grupo C. Em termos de carga viral, 4 (30,8%) apresentavam cargas >1000 cópias, sendo que destes, 3 (75%) apresentavam cotação na escala de depressão superior a 1DP. Os 18 (54,5%) adolescentes com boa adesão cotaram em média 20,4 (mín 10; máx 29), sendo que nenhum deles apresentava cotações superiores a 1DP da média. Igualmente nenhum apresentava cargas virais >1000 cópias. Em termos de classificação imunológica, 8 (44%) pertencem ao grupo 1, 5 (28%) ao grupo 2 e 5 (28%) ao grupo 3. Em termos de classificação clínica, 2 (11%) pertencem ao grupo N, 10 (55,5%) ao grupo A, 1 (5,5%) ao grupo B e 5 (28%) ao grupo C.
Comentários: A identificação dos factores de risco para má adesão à terapêutica anti-retroviral reveste-se de especial importância no acompanhamento destes doentes, em especial nas idades da adolescência. Apesar da reduzida dimensão da amostra, os resultados sugerem uma associação entre patologia depressiva e má adesão. A aplicação regular de escalas de rastreio e a posterior articulação com psicólogos/pedopsiquiatras poderá permitir a melhoria das taxas de adesão e melhorar o prognóstico dos doentes afectados.
Palavras Chave: VIH, Depressão, Adolescentes