1 - Interna de Formação Específica em Psiquiatria da Infância e Adolescência, Área de Pedopsiquiatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central EPE, Lisboa;
2 - Consultora de Psiquiatria da Infância e Adolescência, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central EPE, Lisboa
-XXVI Encontro Nacional da APPIA, 27-29 Maio 2015 (poster)
-10th International Conference on Child and Adolescent Psychopathology from 20th to 22th July 2015 at Whitelands College, Roehampton University, London (poster)
Introdução: As doenças do espetro da esquizofrenia têm muitas vezes início em idade pediátrica, especialmente na adolescência, como é reconhecido desde há várias décadas (Weinberg, 1987). O significado do 1º surto psicótico nesta faixa etária ainda não é totalmente compreendido, podendo evoluir para uma grande diversidade de patologias com prognósticos muito diferentes (Castro-Fornieles, 2007). O início insidioso e a diversidade dos quadros clínicos que se podem apresentar com sintomatologia psicótica é grande e nem sempre os critérios diagnósticos utilizados para a população adulta são fáceis de reconhecer nos adolescentes. O seu impacto no desenvolvimento pode ser devastador, pelo que se torna necessário um diagnóstico atempado e uma intervenção precoce.
Objetivos: Avaliar a prevalência de 1º surto psicótico numa amostra de adolescentes seguidos em Consulta Externa ou Internamento de Pedopsiquiatria; caracterizar o perfil demográfico, fatores de risco, perfil clínico e abordagem diagnóstica e terapêutica da amostra.
Métodos: Estudo retrospetivo de revisão dos processos clínicos de adolescentes (entre12 e 18 anos) com sintomatologia psicótica atendidos em 1ª consulta ou internados na Área de Pedopsiquiatria do CHLC em 2013 e 2014.
Resultados: Foram atendidos 61 adolescentes com 1º surto psicótico, 26 dos quais no serviço de internamento e os restantes em consulta externa. Esta amostra correspondeu a 40% dos adolescentes com sintomatologia psicótica observados neste período de tempo. A média etária foi 15 anos (min 13, máx 17), com predominância do sexo feminino (60%). Havia antecedentes familiares de doença mental em 60% dos adolescentes, sendo psicose em 20% dos casos. Havia um seguimento psicológico/pedosiquiátrico prévio em 68% dos adolescentes. Em 19% dos casos havia história de consumo de canabinóides.
A DUP média foi de 53 semanas (min 1, max 312). Os diagnósticos do espetro da esquizofrenia estavam presentes em 43% dos casos, com predomínio da perturbação psicótica SOE. Os restantes casos enquadravam-se em perturbação do espetro bipolar (29%) e outras (ansiedade, depressão com sintomas psicóticos, perturbação do espetro do autismo).
Conclusão: Um primeiro surto psicótico na adolescência pode instalar-se insidiosamente e ser reconhecido apenas vários meses após o início da sintomatologia. São muitas as patologias que se podem apresentar desta forma, sendo a maioria fora do espetro da esquizofrenia.
Palavras-chave: adolescência, 1º surto psicótico, esquizofrenia, DUP (duração da psicose não tratada)