1 - Unidade de Infeciologia, Área de Pediatria Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central EPE
2 - Serviço de Cardiologia Pediátrica, Hospital de Santa Marta, Centro Hospitalar Lisboa Central EPE
3 - Unidade de Reumatologia Área de Pediatria Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central EPE
- Poster – XIV Jornadas de Infecciologia Pediátrica, Guimarães 18-19 junho 2015
Resumo:
Introdução: A pericardite aguda é uma entidade rara em idade pediátrica. Pode associar-se a várias causas mas a maioria (70%) é idiopática e a recorrência pode ocorrer até um terço dos casos.
Descrição: Menino de 3 anos previamente saudável, completamente assintomático com sopro sistólico de novo em consulta de rotina. Realizou ecocardiograma após 15 dias, identificando-se derrame pericárdico em pré-tamponamento. Foi feita pericardiocentese de urgência com saída de líquido turvo, com 102.000/µL células (89% polimorfonucleares), pH 8, sem alterações da glicose, triglicéridos e colesterol. Não realizou biópsia pericárdica. O ecocardiograma pós-drenagem não apresentava derrame e havia boa função ventricular. Analiticamente: hemograma, função renal, ionograma, função hepática, função tiroideia, enzimas cardíacas e coagulação sem alterações; PCR <0.2 mg/L e VS 10 mm/h; amiloide A normal. Iniciou terapêutica com vancomicina (400 mg/Kg/dia e.v.), cefotaxima (200 mg/Kg/dia e.v.) e ácido acetil-salicílico (100 mg/Kg/dia oral). A TC-torácica realizada em D2 mostrou condensação basal bilateral com broncograma aéreo e pequeno derrame pleural bilateral, sem massas nem adenopatias mediastínicas. Na ausência de traumatismo torácico ou ingestão prévia de fármacos, procedeu-se a marcha diagnóstica de eventual etiologia infeciosa, auto-inflamatória, autoimune ou neoplásica com resultados negativos. O exame cultural (incluindo meio Lowenstein-Jensen) do líquido pericárdico foi negativo. Em D22 registou-se recorrência do derrame, sempre em apirexia, pelo que iniciou colchicina (0,02 mg/Kg/dia). O derrame (volume máximo 6-8 mm) manteve-se presente durante 4 meses, apesar de cumpridas 5 semanas de antibioticoterapia e manutenção de restantes fármacos. Após 6 meses suspendeu AAS e depois de 3 meses a colchicina, sem outras recorrências e estando clinicamente bem após 2 anos.
Discussão: A pericardite recorrente obriga muitas vezes a marcha diagnóstica extensa, podendo neste caso a biópsia pericárdica ser um auxílio valioso. A ausência de um diagnóstico etiológico obriga a um seguimento a longo prazo, pela possibilidade de se tratar de apresentação inicial de doença sistémica por esclarecer e pelo risco de novas recorrências.
Palavras Chave: pericardite recorrente