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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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PATOLOGIA OCULAR NA DIABETES TIPO I EM IDADE PEDIÁTRICA

Alcina Toscano, Nuno Silva, Ana Luísa Basílio, Ana Paixão

- Oftalmologia Pediátrica, Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar de Lisboa Central
- XXIV Reunião de Oftalmologia do CHLC, Lisboa, 30 e 31 de Outubro (comunicação oral)

Resumo:
Introdução: A diabetes Mellitus tipo I é a doença metabólica mais comum na criança, a sua prevalência aumenta com a idade, sendo a principal causa de cegueira no adulto jovem.
As estratégias para a prevenção e tratamento da doença passam pela identificação dos fatores de risco, implementação de programas de rastreio efetivos e otimização do tratamento efetivo da doença metabólica e suas comorbilidades. Os autores analisaram as alterações a nível ocular nesta população, pretendendo adequar os resultados à dinâmica de um centro terciário.
Material e Métodos: Revisão retrospetiva dos processos clínicos dos doentes com diabetes tipo I inscritos e seguidos na consulta de Endocrinologia Pediátrica do Centro Hospitalar Lisboa Central até Julho de 2015. Foram avaliadas as características demográficas, a patologia de base e ocular e a referenciação e seguimento destes doentes na consulta de Oftalmologia Pediátrica.
Resultados: Análise dos processos clínicos de 304 doentes com diabetes tipo I, incluídos no estudo os 110 doentes referenciados à consulta de Oftalmologia. Apresentavam idade média de 13,2 anos (4-20 anos), 57 do sexo masculino e 53 do sexo feminino. A diabetes tipo I foi diagnosticada em média aos 7,5 anos (0,75-13 anos), com tempo de evolução médio de 6 anos (1-14 anos). A média do último valor de Hba1c era 8,6% (4,9-14,4%). A primeira referenciação à consulta de Oftalmologia foi em média aos 9,4 anos (2-19 anos). Em 55 casos os doentes a idade era inferior a 10 anos e, desses, 29 foram referenciados no primeiro ano após o diagnóstico (duração média da diabetes 2,0 anos; 0-7 anos). Relativamente aos 55 doentes referenciados com idade igual ou superior a 10 anos, 27 foram referenciados no primeiro ano após o diagnóstico (duração média da diabetes 2,3 anos; 0-9 anos). Quanto à frequência do rastreio, 54 doentes foram reavaliados após 1 ano, 15 após 2 anos, 1 após 3 anos e 1 após 5 anos. Não foi detetado nenhum caso de retinopatia diabética, 28 doentes apresentavam astigmatismo, 12 hipermetropia, 16 miopia, 5 estrabismo, 2 blefaroptose e 1 catarata polar.
Conclusões: A retinopatia diabética é rara em idade pediátrica. A Sociedade Internacional para a Diabetes Pediátrica e Adolescente (ISPAD) recomenda o rastreio oftalmológico 2 anos após o diagnóstico de diabetes tipo I em doentes acima dos 10 anos e 5 anos se em idades inferiores. As diretrizes de 2014 da Academia Americana de Oftalmologia recomendam que o primeiro exame oftalmológico seja realizado cinco anos após o início da doença e repetido anualmente. Um estudo prévio efetuado no Hospital D. Estefânia, entre 1999 e 2000, por Rodrigues P. et al. constatou uma baixa incidência de lesões oculares (6.4%) na população estudada. Estudos mais recentes, publicados na literatura, são também concordantes e demonstram que a rara incidência de complicações da diabetes até à puberdade poderá justificar novas orientações para o rastreio da patologia ocular, de acordo com idade e doenças mais prevalentes.

Palavras Chave: Diabetes mellitus, juvenil, retinopatia