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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
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INSUFICIÊNCIA INTESTINAL – UM TRABALHO DE EQUIPA !

Rute Neves1, Aline Silva2, Sara Nóbrega1, Raul Silva1

1- UCERN, Área de Pediatria Médica
2- Área de Cirurgia Pediátrica

- Diálogos com a Cirurgia Pediátrica. Ordem dos Médicos, Lisboa, 6/6/15 (Comunicação oral)

Introdução:
Insuficiência intestinal define-se pela incapacidade intestinal para absorção dos nutrientes, fluidos e eletrólitos necessários para a manutenção da vida e crescimento, levando à necessidade de nutrição parentérica por um período superior a 60 dias. Tem como principais causas o síndrome de intestino curto, estados  de má absorção e distúrbios da motilidade.
Os principais objectivos ao tratar crianças com insuficiência intestinal são promover um crescimento e desenvolvimento normal, estimular a reabilitação e adaptação intestinal e, simultaneamente, evitar as complicações associadas à nutrição parentérica (NP) crónica – doença hepática e complicações associadas ao cateter venoso central (CVC). Estes objectivos obrigam à intervenção de uma equipa multidisciplinar constituída por pediatras, cirurgiões pediatras, equipa de enfermagem hospitalar e de ambulatório, farmacêuticos, dietistas, fisioterapeutas e os próprios pais, entre outros.
Este trabalho teve como objectivo caracterizar e avaliar a qualidade dos cuidados prestados às crianças com o diagnóstico de  insuficiência intestinal acompanhadas pela Unidade de Cuidados Especiais Respiratórios e Nutricionais (UCERN) entre fevereiro de 2009 e maio de 2015.
Métodos:
Análise descritiva, baseada nos registos médicos electrónicos, dos seguintes parâmetros: causa de insuficiência intestinal, extensão da ressecção intestinal, número de cirurgias de reconstrução autóloga e evolução relativa à administração de  NP; avaliação das complicações – infecções e sépsis por 1000 dias de CVC, número de recolocações de CVC por 1000 dias de CVC, presença de colestase, número de tromboses e mortalidade
Resultados:
Neste período foram acompanhados pela UCERN 33 crianças com o diagnóstico de insuficiência intestinal.
As causas foram volvo (7), atrésia intestinal (7), enterocolite necrotizante (6), gastrosquisis (3), pseudo-obstrução crónica (2), doença inflamatória intestinal (2), bridas intestinais congénitas (1), dismotilidade intestinal transitória (1), PFIC 1(1), síndrome de Mitchell-Riley (1) e NP em contexto de cuidados paliativos (1). Das crianças com síndrome de intestino curto em nutrição parentérica no domicílio (NPD) 8/13 ficaram, após ressecção intestinal, com menos que 20 cm de intestino delgado, 11/13 efetuaram ressecção da válvula ilio-cecal e 9/13 foram submetidos a ressecção parcial ou total do cólon. Foram realizadas 12 cirurgias de reconstrução autóloga – 8 serial transverse enteroplasty (STEP), 1 longitudinal intestinal lengthening and tailoring (LILT) e 3 tapering. Das 33 crianças: 10 pararam NP durante o internamento inicial, 19 tiveram alta com NPD, 3 encontravam-se ainda internadas e uma faleceu de causa não relacionada com o diagnóstico de insuficiência intestinal. Das 19 crianças que entraram em programa de NPD 4 pararam NP.
Relativamente às complicações foram avaliados 30 casos. Ocorreram 4,83 infecções/1000 dias de CVC ( 2,74/1000 dias de CVC em programa de NPD); 2,62 sépsis/1000 dias de CVC (1,81/1000 dias de CVC em programa de NPD); 2 casos de trombose e 2,60 recolocações de CVC/1000 dias (1,25/1000 dias em programa de NPD). Os agentes de sépsis mais frequentes foram a Klebsiella pneumonia (15), Staphylococcus aureus (14) e Staphylococcus epidermidis (9) e os agentes de infecções locais mais frequentes foram o  Staphylococcus aureus (24) e Pseudomonas aeruginosa (23). Duas crianças apresentavam colestase ligeira, sem critérios de transplante intestinal.
Conclusões:
O número de complicações foi sobreponível ao publicado por outros centros de insuficiência intestinal europeus, o que só é possível pela existência de uma equipa equipe multidisciplinar focada nesta patologia, responsável por todos os cuidados hospitalares e de ambulatório. A redução de complicações permite um melhor prognóstico, uma melhoria da qualidade de vida para estes doentes e suas famílias e uma redução de custos para a Saúde.